sexta-feira, 15 de outubro de 2010

SUBÚRBIO FERROVIÁRIO DE SALVADOR - 2 - ESTAÇÃO DA CALÇADA

Vamos começar pela Estação da Calçada. Antigamente era chamada Calçada do Bonfim. Por quê? Entre o século XVII e XVIII o acesso ao Bonfim era feito exclusivamente pela praia até Monte Serrat. Daí, tomava-se o Alto do Monte Serrat, hoje Rua Rio São Francisco e alcançava-se o Bonfim. Naturalmente, era um acesso muito importante para a cidade, desde que, nas proximidades, já existia o Porto da Lenha aonde chegava toda a madeira carbonizada para as diversas finalidades de aquecimento e fervura das coisas e alimentos da população que se concentrava na Cidade Alta.

Lembremo-nos que àquele tempo só se cozinhava com fogão à lenha ou a carvão. Ainda não existiam os fogões a gás ou elétricos. As roupas eram passadas com o chamado “ferro de engomar”. Colocava-se dentro dos mesmos, brasas de carvão. Era o aquecimento necessário.
Um belo exemplar

Hoje, uma peça de decoração.

Fogão à lenha


Outro belo exemplar

Os fogões à lenha são muito antigos. Os primitivos nada mais eram do que buracos no chão no qual se colocava fogo e o que se iria aquecer, ia por cima. A seguir, o homem começou a utilizar fogões de barro e metal.
Os índios Timbiras e Guaranís, chamavam aqueles antigos fogões de Tucuruba. Mais adiante veio a se chamar “fogão caipira” e, em seguida, “fogão à lenha”.

Enquanto isto foi “calçada” a atual Barão de Cotegipe que, por sua vez se ligava à Avenida Luiz Tarquínio e daí até a Rua Rio São Francisco e ao nosso eficiente Porto da Lenha. As carroças de tração animal começaram a atuar. Já tinham onde rolar com facilidade.

A estação da Calçada foi construída em 1860 e reformada em 1981 com a atual fachada. Quando de sua abertura denominava-se Estação da Jequitaia e era uma estação “central e marítima da estrada”, segundo descrição de Cyro Deocleciano em 1886. Depois foi denominada Estação Bahia e finalmente Estação da Calçada.

Sua história começou em 1853, quando um senhor chamado Joaquim Francisco Alves Branco Muniz Barreto, recebeu do Governo Imperial a concessão por 20 anos para construir uma estrada de ferro saindo das proximidades do porto de Salvador até Juazeiro, às margens do Rio São Francisco. Muniz Barreto era engenheiro. Não se sabe como o referido senhor conseguiu a referida concessão, desde que ele próprio não tinha condições financeiras de construir uma ferrovia. Isto ficou comprovado dois anos após, quando transferiu a difícil e milionária concessão para a Bahia and São Francisco Railway Company, uma empresa inglesa.

Em conseqüência, todo o projeto foi elaborado em Londres pelo inglês John Watson e já em 1860 foi inaugurado o primeiro trecho ligando a Calçada a Paripe. Esse trecho contava com uma extensão de 13.5 km e tinha estações intermediárias nas comunidades de Santa Luzia, Lobato, Almeida Brandão, Itacaranha, Escada, Praia Grande, Coutos, Periperi e Paripe.

A informação acima compilada em determinada fonte, merece dois registros especiais. Primeiro, fica evidente que no processo da referida concessão, houve como que uma inteligente manobra jurídica/comercial. Possivelmente, o Estado não poderia fazer concessões dessa natureza a empresas estrangeiras. A um cidadão brasileiro, entretanto, poderia fazê-lo. É uma hipótese!

Segundo, seria possível um projeto dessa natureza, feito em Londres, restringir-se a um acesso muito restrito, qual seja uma ferrovia com 13.5 ligando a Calçada a uma localidade até então pouco conhecida, certamente ainda mata fechada, contornando a praia, como se fosse uma ferrovia essencialmente turística?

Ao que tudo indica, a licitação tinha outra amplitude. Ligaria Salvador ao Norte do Estado, mais precisamente, à Cidade de Juazeiro.



































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