segunda-feira, 7 de março de 2011

CARNAVAL DE SALVADOR EM SAMBÓDROMO?

Todos os anos, em meio ao Carnaval ou após as festas, surgem opiniões sobre como melhorar as “coisas”. Agora, fala-se, por exemplo, que o Circuito Dodô e Osmar, está perdendo espaço para o Circuito Barra-Ondina e que algo precisa ser feito.
Entre as opiniões colhidas, uma merece citação, qual seja a de que o Carnaval da Bahia precisa de um sambódromo que nem o do Rio de Janeiro ou de São Paulo. (?!)
Este blog que nada tem a haver com o Carnaval, mas se intromete por entender que está divulgando a nossa maior festa e com isto fazendo-a crescer e dando emprego a muita gente e trazendo divisas para o Estado, precisa emitir urgentemente sua opinião sobre essa sugestão.
Pelo amor de Deus, não vezes não. Não a considerem. Façam de contas que não foi emitida, apesar da importância da pessoa que a propôs, daí residindo o perigo.
Se fosse acatada, teria que ser um sambódromo de 10 quilômetros de comprimento contra os 750 metros do Marquês de Sapucaí. Por quê? São 300 Trios Elétricos. Um milhão e meio de foliões. Números fantásticos, absolutamente inaceitáveis para o espaço restrito de um sambódromo.
O que está acontecendo com o Carnaval da Bahia é uma coisa absolutamente normal. Desde a criação do circuito da praia, a tendência desse setor era e é de crescimento constante. Lá estão os grandes hotéis, o panorama é agradabilíssimo e mais uma série de razões que todos conhecem.
Em conseqüência, o outro circuito, do centro da cidade, tende a diminuir. É o mesmo público, em tese. A partir de determinada hora, todos descem as ladeiras rumo à Barra e à Ondina. O centro se esvazia.
E existiria uma solução para evitar esse êxodo carnavalesco? Achamos que tem!
Separar os eventos. No Centro retornaria o Carnaval de antigamente, dos mascarados, dos blocos, dos afoxés, o carnaval espontâneo dos velhos tempos.
Idéia louca? Não é! Agora mesmo no Rio de Janeiro estão voltando os blocos de rua, enchendo de alegria a Avenida Rio Branco e a Cinelândia. E quem conhece o Rio sabe quanto é gostoso essa parte da cidade como seus bares e restaurantes simples e maravilhosos – o Amarelinho, por exemplo.
O antigo Carnaval de Salvador era assim. Tinha a brincadeira da rua e nos bares periféricos, fazia-se outro carnaval, particular, às vezes um simples tamborim e um surdo e se formava um grupo homogêneo de intenções, originário do desconhecido. Ou se parava em frente a um balcão de cerveja montado na frente das Duas Américas, olhando as meninas em torno; na hora da fome ou se subia as velhas escadas do Hotel Chile para saborear um escaldado de peru ou se ia almoçar no Pálace em meio aos artistas do sul do País. Havia quem descia o elevador e iia pegar a moqueca ou a fatada de Maria de São Pedro.

Hoje também é assim com as devidas correções que o tempo acentuou. O cara deita no Corredor da Vitória à sombra dos oitiseiros, aguardando que o Trio comece a tocar. Ninguém está preocupado com o tempo. Pode ser a tarde toda. Quando a coisa começa a andar, latinha de cerveja na mão, sai andando com a gata ao lado. Cantar pra que? Nunca ouviu aquela música. Depois aprende seu refrão, lá na avenida. Vê um amigo na calçada, saí das cordas e vão beber em outro lugar. Na volta não acha mais a gata com quem estava. Pega outra que tem aos montes. Quando o desfile termina, procura um camarote. É outro ambiente. Gente famosa por todos os lados. Aprecia Ivete passar. Parece que ela ri para ele. Ele, pelo menos, ri para ela. Isso é o que importa.

Agora, imaginem um sambódromo? O ambiente de um sambódromo. Hora marcada para começo do desfile. Se atrasar um minuto, não consegue entrar. Não pode beber, nem na concentração, antes e depois. Não pode abraçar a gata ao lado. Percorre o trajeto do sambódromo quase correndo. Não vê nada, não sente nada. Após o desfile o vazio da noite ou da madrugada. Foi-se o Carnaval! Que Carnaval?
Para encerrar, não tem este que irá pagar mil reais ou que seja mesmo “trezentinho” por uma abadá ou camisa para este sacrifício.

Desfile de um bloco de Salvador vezes 300

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