terça-feira, 9 de outubro de 2012

PÉROLAS DE KLANG - UM NOVO LIVRO





No dia 7 p.p., anexo a nossa postagem, tivemos a ocasião de escrever o epílogo de nosso primeiro livro dado ao conhecimento público, via internet. (ALAGADOS). Conforme explicado, não tivemos condições de publicá-lo de outra forma. È muito caro para um retorno duvidoso. Não somos profissionais da palavra. Resta-nos a leitura dos amigos.
Hoje começamos a publicação de um segundo livro denominado PÉROLAS DE KLANG. Escrevemos sobre dois mergulhadores baianos, gente de Itapagipe, que foi conectada para mergulhar na Malásia, KLANG, na busca de pérolas.
Então, desenrola-se uma trama internacional com ares de James Bond que talvez agrade.

PÉROLAS DE KLANG
1


Serbentinho (Manoel) era o melhor jogador de futebol de praia de Itapagipe. Não tinha outro! Quando a bola chegava aos seus pés, saía a driblar todo mundo e geralmente fazia o gol. Logo após dava um mergulho no mar ao lado, absolutamente exausto. Faltava-lhe resistência. Havia uma razão – Serbentinho estava se tornando um alcoólatra. Bebia todos os dias. Muitas vezes o irmão mais velho ia buscá-lo em algum lugar onde deitava para dormir. Uma pena! Poderia ter tido outro destino, desde que era muito inteligente.
Quando ainda estudava, era um dos melhores alunos do colégio, que nem o irmão, Serbento (Raimundo)  mas este prosseguiu nos estudos e já estava para se formar em Biologia. Falava inglês fluentemente, resultado da convivência com mergulhadores estrangeiros em plataformas submarinas.  Já dava aulas particulares nas residências dos alunos e era com esse ganho que sustentava a mãe e  Serbentinho.
A mãe dos Serbentos era uma batalhadora incansável. Mariscava todos os dias, tanto fazia ser na Ponta da Penha como nos baixios de Plataforma.  Apesar dos filhos serem relativamente altos, ela era baixinha, ao ponto de ser mais conhecida como Dona Pequenina em vez de Maria da Glória, que era seu nome. Tostada pelo sol que tomava diariamente, tinha a pele morena e cabelos lisos e quando moça eram pretos que nem os de uma índia. As pernas eram fortes e arredondadas sob quadrís generosos. Era o tipo da mulher bem feita.
Foi nesse contexto de mulher bonita que resultou nos dois filhos que têve, cada qual de um pai diferente. O pai de Raimundo chamava-se Serbento, mais conhecido como Senhor Serbento da padaria. Era espanhol. Numa certa manhã, ainda muito cedo, Maria da Glória foi comprar pão que a mãe lhe pedira e, em vez de aguardar que a padaria abrisse de vez – estava apenas com uma das portas meio levantada – adentrou por baixo dela e não deu outra. O gringo que já estava de olho naquela baixinha; só fez arriar a porta e consumar o ato. Verdade que já havia por parte de Pequenina certa cumplicidade com aquele espanhol que era solteiro e morava sozinho num quarto, ao fundo do estabelecimento. Nos dias seguintes, Maria da Glória chegava cada vez mais cedo, até que um dia sua família se mudou e ela não pôde mais ver o amante.
Aí, Maria da Glória ficou grávida. Teve que confessar à mãe quem fora o autor daquele feito. Dona Felícia pegou o ônibus e se dirigiu até o antigo bairro onde morava. Foi até a padaria em hora de movimento. O espanhol não a conhecia, mas logo percebeu de quem se tratava. Parecia com Maria da Glória. Negou peremptoriamente. A mãe fez um escândalo. As pessoas se afastaram do local, aos risos.
-- Dou-lhe 24 horas para você decidir, seu galego descarado. Você vai ter que assumir esse filho. Casar eu sei que você nunca casará, mas as despesas com esse filho, o parto, o hospital, uma mesada, você haverá de pagar. Vou estimar o quanto isso vai ser e venho aqui buscar o dinheiro junto com a policia.
Duas  semanas depois, a mãe de Maria da Glória voltou à padaria. Encontrou-a fechada. Consultou os vizinhos. Informam que fazia dois dias que ela não abria. Desesperada, dirigiu-se à Delegacia de Polícia. Contou o ocorrido ao delegado. Esse mandou um investigador ao local do “crime”, sendo informado do endereço de uma irmã do galego - no mesmo bairro. Os dois caminharam até lá.
- Meu irmão viajou para a Espanha no dia de ontem. Ele não comentou nada conosco. Só sei que a padaria já estava para ser fechada, desde que ele tem casamento marcado ainda para este mês em Valença. Eu e meu marido deveremos ir. Somos os padrinhos. Sinto muito! Nada posso fazer.
Sem a pretendida remuneração, nasceu Raimundo que dona Felicia fez questão de registrar como sendo filho legítimo de Manuel Serbento e Maria da Glória dos Santos, aquele nascido em Valença, Espanha.
E como foi o feito do segundo filho, Manuel? Este nasceu de pai desconhecido, mas Dona Felícia fez questão de registrar com o mesmo nome do pai do primeiro filho de Maria da Glória, ou seja, Manuel de Serbento Filho. O miserável teria que pagar em dobro.
Fez mais ainda: não chamava os netos pelos primeiros nomes. Chamava-os por Serbento e Serbentinho. Disseminaria por todos os lados o nome daquele espanhol da peste. Quem conhecia o caso, haveria de se lembrar para sempre do ocorrido. Aos que não sabiam, contaria a história na primeira oportunidade.
Pequenina morava numa vila de pequenas casas entre a Avenida Beira Mar e o Porto dos Mastros.  A casa que foi de sua falecida mãe, tinha dois quartos – um dela e o outro para os dois filhos, mais sala, cozinha e banheiro. Possuía um pequeno quintal, onde plantava algumas verduras, mas tinha especial carinho com um pé de limão e outro de pimenta. Eram os principais ingredientes de suas moquecas de papa-fumos e de siris moles que costumava pescar. Esses  últimos à noite. De quando em vez, Serbento, seu filho mais velho, trazia um peixe, resultado dos mergulhos que dava nas Docas da Bahia. Mais ocasionalmente o caçula pescava uns chicharros olho de boi na Pedra da Lixa.
Certo dia, Serbento comunicou à mãe que havia sido contratado por uma empresa estrangeira para mergulhar na Malásia. Merú, seu amigo da mesma labuta, iria também.
- Mas na Malásio, filho?
- Sim mãe, na pesca de pérolas. A região tem muita ostra.
 


 
 
 
Falava inglês fluentemente, resultado da convivência com mergulhadores estrangeiros em plataformas submarinas. Era um exímio mergulhador. Vivia desse trabalho e mais de aulas particulares de inglês. Com isto sustentava a mãe e o irmão. 

A mãe dos Serbentos era uma batalhadora. Mariscava todos os dias, tanto fazia ser na Ponta da Penha como nos baixios de Plataforma.  Apesar dos filhos serem relativamente altos, ela era baixa, ao ponto de ser mais conhecida como Dona Pequenina em vez de Maria da Glória, que era seu nome. Tostada pelo sol que tomava diariamente tinha a pele morena e seus cabelos eram lisos e quando moça eram pretos que nem os de uma índia. As pernas eram fortes e arredondadas sob quadris generosos. Era o tipo da mulher bem feita.

Foi nesse contexto de mulher bonita que resultou nos dois filhos que têve, cada qual de um pai diferente. O pai de Raimundo chamava-se Serbento, mais conhecido como Senhor Serbento da padaria. Era espanhol. Numa certa manhã, ainda muito cedo, Maria da Glória foi comprar pão que a mãe lhe pedira e, em vez de aguardar que a padaria abrisse de vez – estava apenas com uma das portas meio levantada – adentrou por baixo dela e não deu outra. O gringo que já estava de olho naquela baixinha; só fez arriar a porta e consumar o ato. Verdade que já havia por parte de Pequenina certa cumplicidade com aquele espanhol que era solteiro e morava sozinho num quarto, ao fundo do estabelecimento. Nos dias seguintes, Maria da Glória chegava cada vez mais cedo, até que um dia sua família se mudou e ela não pôde mais ver o amante.

Aí, Maria da Glória ficou grávida. Teve que confessar à mãe quem fora o autor daquele feito. Dona Felícia pegou o ônibus e se dirigiu até o antigo bairro onde morava. Foi até a padaria em hora de movimento. O espanhol não a conhecia, mas logo percebeu de quem se tratava. Parecia com Maria da Glória. Negou peremptoriamente. A mãe fez um escândalo. As pessoas se afastaram do local, aos risos.

-- Dou-lhe 24 horas para você decidir, seu galego descarado. Você vai ter que assumir esse filho. Casar eu sei que você nunca casará, mas as despesas com esse filho, o parto, o hospital, uma mesada, você haverá de pagar. Vou estimar o quanto isso vai ser e venho aqui buscar o dinheiro junto com a policia.

Duas  semanas depois, a mãe de Maria da Glória voltou à padaria. Encontrou-a fechada. Consultou os vizinhos. Informam que fazia dois dias que ela não abria. Desesperada, dirigiu-se à Delegacia de Polícia. Contou o ocorrido ao delegado. Esse mandou um investigador ao local do “crime”, sendo informado do endereço de uma irmã do galego - no mesmo bairro. Os dois caminharam até lá.

- Meu irmão viajou para a Espanha no dia de ontem. Ele não comentou nada conosco. Só sei que a padaria já estava para ser fechada, desde que ele tem casamento marcado ainda para este mês em Valença. Eu e meu marido deveremos ir. Somos os padrinhos. Sinto muito! Nada posso fazer.

Sem a pretendida remuneração, nasceu Raimundo que dona Felicia fez questão de registrar como sendo filho legítimo de Manuel Serbento e Maria da Glória dos Santos, aquele nascido em Valença, Espanha.

E como foi o feito do segundo filho, Manuel? Este nasceu de pai desconhecido, mas Dona Felícia fez questão de registrar com o mesmo nome do pai do primeiro filho de Maria da Glória, ou seja, Manuel de Serbento Filho. O miserável teria que pagar em dobro.

Fez mais ainda: não chamava os netos pelos primeiros nomes. Chamava-os por Serbento e Serbentinho. Disseminaria por todos os lados o nome daquele espanhol da peste. Quem conhecia o caso, haveria de se lembrar para sempre do ocorrido. Aos que não sabiam, contaria a história na primeira oportunidade.

Pequenina morava numa vila de pequenas casas entre a Avenida Beira Mar e o Porto dos Mastros.  A casa tinha dois quartos – um dela e o outro para os dois filhos, mais sala, cozinha e banheiro. Possuía um pequeno quintal, onde plantava algumas verduras, mas tinha especial carinho com um pé de limão e outro de pimenta. Eram os principais ingredientes de suas moquecas de papa-fumos e de siris moles que costumava pescar. Esses  últimos à noite. De quando em vez, Serbento, seu filho mais velho, trazia um peixe, resultado dos mergulhos que dava nas Docas da Bahia. Mais ocasionalmente o caçula pescava uns chicharros olho de boi na Pedra da Lixa.

Certo dia, Serbento comunicou à mãe que havia sido contratado por uma empresa estrangeira para mergulhar na Malásia. Merú, seu amigo da mesma labuta, iria também.

- Mas na Malásio, filho?

- Sim mãe, na pesca de pérolas. A região tem muita ostra.

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