sábado, 5 de janeiro de 2013

LAVAGEM DO BONFIM - DETALHES


Como já se sabe, no próximo dia 17 desse mês, realiza-se mais uma Lavagem do Bonfim. Diferentemente de outras festas populares que se faz propaganda nos meios de comunicação a fim de despertar o máximo do interesse popular, esta comemoração se faz como que em segredo, desde que condenada pela própria igreja. É que os católicos são diferentes,  por exemplo, dos protestantes. As ordens emanadas da cúpula desses últimos são obedecidas rigorosamente. Já os católicos não se importam daquelas advindas dos mentores de sua igreja.  Se não lhes toca a alma, de nada adianta. É chover no molhado, segundo conhecido ditado.
Isto vem a propósito em razão das sucessivas manifestações da Igreja Católica contra a realização da Lavagem do Bonfim. A coisa vem de longe, desde 1889 quando Dom Antônio Luiz dos Santos, principal mentor da igreja na Bahia àquela época, emitiu um mandamento determinando, “que a Igreja do Bonfim ficasse fechada durante todo o dia de quinta-feira, só permitindo a abertura da porta à noite para a realização da novena”. Acrescentava:  que o asseio fosse feito muito particularmente em outro qualquer dia, de portas fechadas, sem o menor sinal de festa ou cantoria e com a decência compatível com a casa de Deus”. Se não bastasse, para fazer valer a Portaria, publicou-a na imprensa e enviou oficio ao governador do estado, Manoel Vitorino, “pedindo proteção, pois tinha receio que houvesse movimento de desobediência pelo ajuntamento de pessoas da ínfima classe e por interesses comerciais”.
Pelo que se vê, a coisa era braba. Sente-se um forte preconceito nesse “mando”. O povo é tido como uma “ínfima classe” que deveria ser reprimido e naqueles tempos a repressão significava chibatadas e coisas tais, pelourinho, por exemplo.
Vejamos outras manifestações de autoridades e pessoas proeminentes da sociedade a respeito da Lavagem
“Louca bacanal”, “blasfêmia” e “resquício de paganismo”, assim Maximiliano de Habsburgo (naturalista austríaco que visitou a Bahia em 1860) se referiu a  Lavagem do Bonfim.
“Bacanal” também foi o adjetivo utilizado por José Eduardo de Carvalho Filho (1852-1934), médico, intendente municipal, presidente do Centro Catholico Bahiano, irmão e tesoureiro da Devoção do Senhor do Bonfim e cronista..

 Sob a mira eclesiástica, era uma mistura de “irreverência e superstição” nas palavras de dom Romualdo de Seixas.

Mas de nada adiantou. Naquele ano de 1889 o povo foi a sua igreja, lavou-a e perfumou-a com suas águas mágicas.  Não se sabe se encontrou as portas fechadas conforme a recomendação, mas se aproximou delas e certamente molhou a sua madeira jogando baldes de água perfumada. A umidade deve ter chegado ao interior do templo.
Levou muitos anos até que a igreja voltasse a se manifestar contrária à Lavagem. A última delas aconteceu em 28 de janeiro de 1948 nos seguintes termos de acordo com o Mandamento Número 3:” Fica proibida qualquer espécie de lavagem nos templos eclesiásticos, mesmo que simbólicas, antecipadas de cortejos carnavalescos, às vésperas de qualquer festividade religiosa nas paróquias, igrejas, reitorias e capelas. Salvador, 28 de janeiro de 1948"
Ante tamanha carga “oficial” era de se esperar uma diminuição das manifestações populares, ou até mesmo sua extinção.
Nada aconteceu;  muito pelo contrário, a Lavagem foi crescendo pelos anos afora ao ponto de hoje reunir milhões de pessoas de todo o mundo.

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